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A sabedoria milenar do Yoga

  • Aline Negromonte
  • 23 de nov. de 2017
  • 10 min de leitura

O que é, origens e benefícios para a saúde


"Yoga" é uma palavra bastante comum no dia a dia. Você pode nunca ter praticado, mas deve ter uma ideia do que se trata ou conhece alguém que faz. Se frequenta uma academia, é possível que tenha tido a possibilidade de fazer aulas de Yoga no mesmo espaço, sem ter que procurar um estúdio, por exemplo. Ao abrir o Facebook ou Instagram, é muito fácil ser bombardeado por imagens de posturas de Yoga, belas e difíceis de serem realizadas. Existe até um Dia Internacional do Yoga: 21 de junho.

Homens sagrados sadhus praticando Yoga, na Índia. (Fotos: Anupam Nath/AP)

Mas, afinal, o que é Yoga? Como se tornou tão conhecido no Ocidente? Vindo da Índia de tempos ancestrais, cerca de 5000 anos atrás, só foi codificado em meados do século II A.c., pelo sábio Patânjali, que compilou seus ensinamentos no icônico Yoga Sutra. (Sutra, em sânscrito, significa "liga que segura as coisas", é uma palavra para "aforismo"). Este permanece como o maior trabalho contendo aforismos de sabedoria prática e filosófica com relação ao Yoga.


Se hoje é conhecido como um sistema holístico que trabalha a mente e o corpo, ao mesmo tempo, o Yoga é uma filosofia de vida, uma darshana (escola de filosofia), que tem origens budistas e hinduístas, e correspondência com a meditação. Não se trata apenas de uma prática corporal.

O deus hinduísta Shiva. (Foto: American Hinduism Foundation)

A palavra "Yoga", em sânscrito, tem múltiplos significados, mas a raiz, Yuj, significa "unir", "controlar". Inclusive, a forma correta é "o" Yoga, no masculino, porque no idioma sânscrito as palavras terminadas em "a" são masculinas, ou neutras.

Uma das definições mais aceitas e comuns de "Yoga" é "união com o Divino". Além da espiritualidade, há uma ideia de equilíbrio entre mente, corpo e universo. Mas para se ter uma noção, estas são algumas definições de Yoga de textos clássicos ao longo do tempo:


"Yoga é equilíbrio" - Bhagavad Gita

"Yoga o caminho eterno da realização do divino" - Taittirya Upanishad

"Yoga é habilidade em ação" - Bhagavad Gita

"Yoga é samadhi" - Yoga Bhashya

"Yoga é a cessação das flutuações da mente." - Yoga Sutra de Patãnjali


Nos Yoga Sutras de Patânjali, seus aforismos são divididos em oito partes, para o entendimento do todo:

  • 1 e 2 -Yamas e Niyama: normas de conduta e atitudes para saúde mental

  • 3 - Asanas: posturas

  • 4 - Pranayama: controle da respiração

  • 5 a 7 - técnicas de concentração e meditação

  • 8 - Samadhi: meditação profunda.

Até hoje, estes termos são utilizados para o ensino de práticas iogues.


Da Índia para o Ocidente


Um dos grandes divulgadores da cultura indiana no Ocidente foi Paramahansa Yogananda, grande entusiasta do Yoga e um dos pioneiros, se não o maior, a introduzi-lo no Ocidente. Yogananda nasceu em 5 de janeiro de 1893, próximo das montanhas do Himalaia. Quando tinha 17 anos, ele se tornou discípulo de Swami Sri Yukteswar e passou por muitos anos de formação espiritual, até se tornar monge. Em 1917, fundou a escola da “arte de viver”, voltada para meninos, onde métodos educacionais modernos eram combinados com treinamento em Yoga.

Paramahansa Yogananda. (Foto: Reprodução da internet)

Em 1920, ele foi convidado para proferir uma palestra em um congresso sobre religião na cidade de Boston, Estados Unidos. Esta foi a primeira de uma série de incursões do iogue no país, de onde começou a explicar seus ensinamentos para milhares de pessoas. Lá, fundou uma organização, a "Self-realization Fellowship", na década de 20, para continuar e perpetuar seu trabalho, recebendo críticas positivas da mídia norte-americana.

Ele só reduziu a quantidade de suas palestras quando começou a escrever seu livro, a "Autobiografia de um Iogue", até hoje, um texto de referência no ensino de Yoga. No ano passado, foi realizada uma cinebiografia de sua vida, "Awake - A vida de Yogananda", filme dirigido por Paola Di Florio. Uma curiosidade é que o ex-Beatle George Harrison aparece no filme contando sua experiência.


No final dos anos 1960, quando o movimento hippie despontava e a valorização da sabedoria milenar indiana fazia um contraponto ao ocidente, o Yoga também se tornava mais popular. Tempos depois, os próprios Beatles se conectaram à cultura indiana (vide a popularidade de Ravi Shankar, músico que tocava cítara e que foi conhecido como "Guru dos Beatles"). Dentre eles, George Harrison, praticante de Yoga, foi o maior entusiasta dos ensinamentos.

Os Beatles na Índia, Harrison no meio, de vermelho. (Foto: Telegraph UK)

Para a professora Viviane Pereira Mendes, que ensina a prática do Yoga há 12 anos, ele é um estilo de vida e "um caminho para o autoconhecimento". Ela enfatiza que a "estrada" do Yoga que ensina, o Hatha-Yoga, é a mais voltada para o corpo - e a mais conhecida no Ocidente - mas que há muitas outras vertentes, como o Mantra-Yoga, por exemplo. Todas elas dentro do espectro abrangente e holístico do Yoga.



Caminhos do Yoga


O texto do hindu Bhagavad Gita, escrito mais de quatro séculos antes de Cristo, revela: "Há tantos tipos de Yoga quanto pessoas no mundo." Alguns deles são:


Clássicos:


Râja-Yoga ou Yoga Clássico (sistematizado por Patanjali): considerado como Yoga próprio daqueles que possuem o controle da mente


Hatha- Yoga ou Yoga Vigoroso: tem como objetivo transcender a consciência e realizar a si mesmo. O Hatha-Yoga está relacionado com o desenvolvimento do corpo, para que esse possa suportar a força da realização transcendente


Jnâna-Yoga é o Yoga do Conhecimento: busca a realização de si mesmo através do discernimento entre o real e o irreal


Bhakti-Yoga ou Yoga do Amor: transforma a devoção em uma forma de meditação


Karma-Yoga é o Yoga da Ação: cada um deve executar a ação que lhe cabe sem esperar reconhecimento, sem apego


Mantra-Yoga: busca atingir a transcendência através de mantras, que são expressões vocais sagradas.

O mantra "OM", o mais importante do hinduísmo. Considerado "O Som do Universo".

"Estradas" mais recentes do Yoga:


Yoga-Nidra: forma de meditação adaptada em 1962 pelo Swami Shivananda Saraswati, utilizada no retraimento ou convergência dos sentidos


Iyengar Yoga: método baseado no Yogasutra, mas com acessórios e adaptações que facilitaram a prática criada por B.K.S Iyengar (1918-2014)


Vinyasa Yoga: prioriza os movimentos coordenados com a respiração e não é sistematizado. Dentre os estilos mais famosos estão o Ashtanga (por volta de 1950-1970), prática de posturas seguidas em forma de sequência com alta exigência física e o Power Yoga (1990), mais voltado para a ginástica.

(Fonte: minhavida.com.br)

Se você é o tipo de pessoa que não é muito ligada em espiritualidade ou esoterismo, e muito menos aforismos, saiba que há variaedade indicada para o seu benefício, a já citada Hatha-Yoga, que é ligada ao domínio do corpo, tema de uma pesquisa da Universidade de Waterloo, no Canadá. O estudo concluiu que 25 minutos diários de prática são suficientes para melhorar a sua performance cerebral. Aliada à meditação, os resultados são ainda mais expressivos, porém, apenas a Hatha-Yoga pode trazer benesses: "A prática libera endorfina, melhora a fluidez de sangue no cérebro e diminui o foco em pensamentos ruins", definiu Kimberley Luu, autora do estudo.


A visão de professores de Yoga


Para o professor Plínio Madureira, que procurou o Yoga por um problema de saúde nos pulmões e se tornou praticante desde 2010, o Yoga significa união: "de você consigo mesmo (autoconhecimento), união e integração de você com a natureza e o universo."

O professor é formado no Shivam Yoga Ashram em Ouro Preto e pratica o Shivam Yoga, "uma escola com bases filosóficas no Tantra e Sankhya, que busca resgatar o Yoga tradicional indiano", define.

Plínio Madureira, professor de Shivam Yoga. (Fotos: Acervo pessoal)

Plínio completa que o Yoga traz, além do equilíbrio físico, emocional e mental, força muscular, disposição para enfrentar os desafios da vida, saúde, alegria, acalma a mente e as emoções. "Você fica mais focado em seus objetivos e eleva a sua vibração energética fazendo com que você se sintonize com energias espirituais do bem", revela.

Para quem está iniciando agora, ele sugere que a perseverança garante os benefícios ao longo do tempo. Além disso, ressalta a importância de uma conexão, tanto com o natural, quanto o sensorial:

"Tente praticar o mais próximo possível da natureza. Não tenha medo, se entregue à prática, deixe fluir livremente e seja feliz".


Já Érika Senra pratica Yoga há 14 anos e se tornou professora há três, formada em um curso realizado na Shakti Yoga, em Juiz de Fora. Ela também é especialista em Yogaterapia Hormonal para Menopausa, diploma que conseguiu com os ensinamentos da criadora do método, Dinah Rodrigues. Ela foi atraída pelo Yoga, primeiramente, pelo condicionamento físico que a prática proporcionava. Porém, ela afirma que, ao longo dos anos, percebeu que o corpo não é o maior favorecido: "as mudanças na mente, a maneira de reagir às situações, muda muito. Claro que o corpo também ganha, flexibilidade, força... Mas quem obtém mais consequências positivas é a nossa mente".

A professora de Hatha Yoga Érika Senra. (Foto: Acervo pessoal)


A professora revela que, de acordo com as escrituras, quem criou a Yoga foi Shiva, o deus da transformação do hinduísmo. "Dançando, ele criou os ásanas, as posturas de Yoga." Para ela, a Yoga mais tradicional é a Hatha Yoga, e há diferenças claras entre os caminhos do Yoga e a Yogaterapia.




Para quem está começando, ela dá algumas dicas. "É interessante praticar com um professor, e ouvir o seu corpo, não extrapolar seus limites". E sobre as ásanas, ela é categórica ao dizer que posturas preferidas podem ser uma armadilha. "Você gosta de algumas que tem facilidade de executar. E, claro, que estas são interessantes de se aprimorar, mas o grande desafio é fazer aquelas que se tem dificuldade. Vão te acrescentar mais", completa.



Quem pratica, indica!


Não é preciso fazer Yoga há muito tempo para colher os benefícios. O administrador de empresas Leonardo Kodato, 25, é adepto da Yoga há 6 meses e já percebe mudanças, tanto na sua capacidade corporal quanto em sua mente: "Meu dia a dia é muito conturbado. Então para poder relaxar um pouco mais, para me encontrar internamente para o próximo dia, a Yoga tem sido muito útil."


Leonardo buscou o Yoga por ser um exercício físico, mas que também abrange a mente. Ele pratica o Hatha e Power Yoga em um estúdio turmas pequenas, com até 4 alunos, para garantir que "todos recebam atenção. É importante que haja acompanhamento, para saber se os movimentos estão sendo feitos corretamente, até para não ter nenhuma lesão", afirma. Além disso, ele destaca a questão das posturas: é importante sempre focar a respiração.


Leonardo Kodato (Foto: Acervo pessoal)

Ele completa que, depois destes 6 meses praticando, já tem uma postura favorita na Yoga.




Postura da Vela (Fonte: yogateca.com)


"Hoje, eu tenho uma disposição melhor, durmo melhor... O Yoga tem um impacto muito grande no sono, você relaxa bastante os músculos e, depois de um dia tenso, é um diferencial interessante. Também percebo que tenho mais foco nas atividades do dia a dia... Quando a gente faz Yoga, acaba meditando também. E na questão do foco, ele é fundamental", conclui.


Outra iniciante, que deixou a atividade há um tempo, mas que pretende voltar assim que possível, é a citotécnica Alice Elaine Urbieta, de 54 anos. Ela sente que a disposição e a flexibilidade que o Hatha Yoga lhe proporciona é única. Atualmente, ela faz musculação, mas pretende em breve complementar seus exercícios com a prática iogue.



Já o professor de educação física Johnston Morais, 40, pratica Hatha Yoga há um ano e dois meses. O que o chamou a atenção em um primeiro momento foi os ásanas, as posturas. Ele acredita que o Yoga melhora a postura, a respiração e pode ajudar a corrigir encurtamento muscular. "Você parece que fica maior em estatura, pela correção de postura; a respiração, chamada Pranayama, ajuda muito pra esse processo. Ela deixa de ficar encurtada com o passar do tempo, temos uma consciência melhor da expansão dos pulmões e, com isso, oxigena todo o corpo", explica. Os ensinamentos são levados para suas aulas: "Eu digo para os meus alunos que eu prefiro Yoga do que o Pilates de Solo. Recomendo a prática, os benefícios são fantásticos. Como uma atividade física, para mim, ela é perfeita."


Jhonston Morais (Fotos: Acervo Pessoal)

No caso da advogada e estudante de nutrição Bruna Pinheiro Bastos, 29, o contato com o Yoga vem de sua infância. Aos cinco anos, já praticava Yoga e meditação em seu colégio, por intermédio de uma professora de Artes. Atualmente, ela pratica em casa, por videoaulas no YouTube e na academia onde malha, "quando dá tempo", afirma.

O que ela destaca no Yoga é a paz e capacidade de concentração que a atividade traz, assim como a busca pela realização diária.

"Essa coisa de se desafiar a melhorar todo dia faz um bem danado para a auto estima, sem contar que o tempo que eu paro pra fazer o Yoga é um tempo que eu desligo do mundo e foco só naquele momento. No quesito físico, melhora muito a minha flexibilidade", declara.


Bruna Pinheiro. (Foto: Acervo pessoal)

A advogada já praticou vários tipos de Yoga. "Cada estúdio em que eu treinava tinha um enfoque diferente, hoje, vou de acordo com a minha 'vibe' do dia, como faço videoaulas, consigo buscar o que estou mais disposta no momento. Como já fiz circo, acabo treinando um pouco de Acro Yoga também." Esta é uma variedade recente de Yoga, que inclui acrobacia. Ela ainda ressalta que procura se dedicar ao menos um pouco à Yoga no dia-a-dia: "Quando não tenho tempo pra nada, só fazer uma rápida saudação ao sol já dá uma descarregada do estresse."

Bruna praticando Hatha Yoga no campus da UFJF (Foto: Acervo pessoal).

Outra advogada, Mariana Mendes Guedes, 28, é tão fã de Yoga que pretende se tornar instrutora em breve. Desde 2012, quando fez sua primeira aula gratuita, se apaixonou, mas não pode praticar com um professor na época, por questões de tempo. Mas não desistiu: acessava videoaulas no Youtube e ia praticando como era possível, até em 2014 chegar a ter aulas em um estúdio, com uma professora, e não parou mais. Ela afirma que há vantagens inigualáveis com a aula acompanhada, tanto pela sensação de segurança quanto pelo contato humano que uma aula presencial proporciona.



Mariana conta que, atualmente, ela destaca na Yoga a possibilidade de uma vivência espiritual, sem estar ligada à uma religião. "Desde abril deste ano eu faço um curso de formação para virar instrutora. Quando você só faz aulas e práticas esporádicas, não percebe que há um mundo enorme, que tem muita coisa", afirma.


Mariana Mendes (Foto: Acervo pessoal)


"Hoje, depois do curso, minhas posturas melhoraram muito. Comecei a gostar de posturas que não gostava antes, uma das posturas que mais gosto é a do cachorro de cabeça para baixo. Esta é considerada uma postura invertida, que me dá uma sensação muito boa. Antes, eu não gostava porque achava que era um esforço tremendo, não sabia distribuir as forças do meu corpo, hoje, eu faço cada dia melhor. Tenho um sentimento de superação. Outra postura que gosto muito é a montanha, que basicamente você fica de pé, gosto porque dá uma sensação de centramento e é quase como se eu estivesse meditando. Também gosto de fazer a saudação ao sol, que faço utilizando um pranayama, é quase uma meditação em movimento, me sinto muito presente."


Mariana na postura do cachorro de cabeça para baixo (Foto: acervo pessoal)


A futura professora de Yoga conclui com uma dica para quem quer começar agora: ouvir o seu corpo, ter muita atenção (principalmente se a prática da Hatha-Yoga for por conta própria), não forçar seus limites e ver conteúdos adequados para iniciantes.




Um vislumbre do Yoga


Agora você já sabe um pouco mais sobre o Yoga e todo o seu potencial para deixar a vida mais leve, a mente e o corpo sãos. Ficou interessado (a)? O Meio e Expressão acompanhou uma aula inteira de Hatha Yoga em um centro de terapias alternativas em Juiz de Fora, que conta com um espaço apenas para a prática iogue. (A duração foi de uma hora, a versão do vídeo é apenas um breve recorte). A instrução é da professora Viviane Pereira Mendes. Relaxe e deleite-se! Namastê!*


*Namastê: uma forma de saudação em sânscrito, que significa "curvo-me diante de ti", no sentido de "eu o reverencio".


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