Colesterol: mocinho ou bandido?
- Nayara Martins
- 14 de nov. de 2017
- 5 min de leitura
Algumas pessoas ao ouvirem a palavra colesterol, logo associam o assunto a doenças. Sendo essencial para o funcionamento do nosso corpo, ele não é um vilão. Desempenha funções vitais, serve de matéria-prima para a produção de hormônios, do ácido biliar, que regula a digestão, e da vitamina D, atuando também na construção de membranas celulares.
Mas quando ele é um sinal de que algo não vai bem? Na reportagem, vamos desvendar os mistérios do colesterol e estimular você a levar uma vida mais saudável.

Colesterol HDL e LDL
Existem dois tipos de colesterol: o HDL e o LDL, sendo ambos fundamentais para o pleno funcionamento do nosso organismo.
HDL é a abreviatra de High Density Lipoproteins, que significa proteínas de alta densidade. Ele é capaz de absorver os cristais de colesterol que são depositados nas artérias, removendo-os e transportando-os de volta ao fígado, para ser eliminados.
Níveis elevados deste tipo de colesterol podem ser benéficos, reduzindo o risco de doenças do coração.
Já LDL é a abreviatura de Low Density Lipoproteins, que significa proteínas de baixa densidade. Ele é o responsável por transportar o colesterol do fígado, até as células de diversos outros tecidos.
Níveis elevados deste tipo de colesterol estão relacionados à doenças cardíacas.
A nutróloga Alice Amaral aponta que é comum rotularem o HDL como colesterol bom e o LDL como o ruim. Porém, a médica alerta que a classificação não é adequada, afinal, os dois são necessários à vida.

A médica nutróloga Alice Amaral /Foto: Reprodução da internet
Ela explica: o colesterol LDL é atribuído como sendo negativo para nossa saúde, pois suas concentrações elevadas podem depositar-se lentamente nas camadas internas da parede arterial. O que junto com outras substâncias presentes em nosso sangue formam a placa aterosclerótica, que é um depósito espesso e firme, responsável pela obstrução das artérias, resultando na aterosclerose .

Esse acúmulo, dependendo de onde estiver localizado, pode gerar sérias complicações, levando o indivíduo a ter dores no peito, infarto e em casos ainda mais graves, até um acidente vascular cerebral.
Colesterol LDL
Ainda de acordo com Alice Amaral, existem alguns fatores que contribuem para o aumento dos níveis de colesterol LDL em nosso organismo. Dentre eles, podemos destacar: histórico familiar, uso de anabolizantes, abusar do consumo de doces, gorduras e álcool, diabetes compensada, tabagismo, insuficiência renal e cirrose.
A médica alerta que não existem sintomas que indiquem a presença do colesterol LDL alto no organismo, tratando-se de uma patologia que atua de forma silenciosa, podendo ser identificada somente através de exames de sangue.
Colesterol alto - e agora?
A primeira reação ao descobrir que os índices de colesterol estão elevados, pode ser de desespero, preocupação e medo. Mas é importante destacar que o valor total alto nem sempre significa riscos de desenvolver doenças, pois o número pode ser referente ao colesterol HDL, o que também provoca aumento nas taxas do colesterol total.
Assim, deve-se sempre levar em consideração os valores do colesterol HDL, LDL e o dos triglicerídios para analisar o risco da pessoa desenvolver doenças cardiovasculares.
Porém, mesmo quando os índices de LDL estão elevados, é possível tratar os níveis deste tipo de colesterol a partir de práticas simples.

De acordo com o médico endocrinologista e metabologista Felipe Esteves, o tratamento indicado para reduzir as taxas do LDL presentes no organismo, pode variar de pessoa para pessoa.
As recomendações mais comuns: mudanças alimentares baseadas em orientações dietéticas desenvolvidas por um especialista; prática regular de atividades físicas; uso de medicamentos ou a substituição de alguma medicação anterior que possa estar gerando o aumento dos índices de LDL no sangue.
O endocrinologista afirma que na maioria dos casos, seguir a dieta e realizar exercícios físicos regularmente podem normalizar os níveis de LDL no organismo do indivíduo, sem a necessidade de tomar remédios. Mas destaca que, em média, a partir de 55 anos, o recomendável são mudanças de hábito aliadas a medicação.
Vivendo com o LDL elevado
A dona de casa Margarida Toledo, de setenta anos, descobriu através de exames de rotina que os índices de LDL em seu organismo estavam acima do recomendado.
O valor total de seu colesterol chegou a 305 mg/dl, a aposentada aponta que o aumento foi devido a fatores genéticos e o avanço da idade.
Há mais de dez anos tratando os índices de colesterol, Margarida revela que procurou mudar os hábitos imediatamente e hoje controla os índices de LDL a partir de dieta balanceada, prática regular de atividade física e medicamentos.

Ela destaca que em menos de um ano foi perceptível a melhora em sua qualidade de vida, assim como a redução das taxas do colesterol LDL. Mas lembra que cuidar da saúde não significa privar-se dos pequenos prazeres na alimentação.
"Eu sigo a dieta a risca, mas uma vez por mês posso comer um pastel de queijo devido a minha disciplina, o médico me liberou", revela alegre. Margarida Toledo, aposentada.
Já o pré-adolescente Jonas Miranda, de onze anos, apesar de também possuir o colesterol LDL alto, não pensa em conciliar seus desejos alimentares com nenhuma dieta. Tenta sempre driblar o tratamento indicado, apesar da insistência e dedicação dos pais.
Selma Miranda é mãe de Jonas, ela revela que descobriu o aumento nos níveis do colesterol LDL do filho há três anos. Desde então, toda alimentação do pré-adolescente foi alterada, mas destaca que ao ver alguma oportunidade, o garoto foge da dieta.
"É muito complicado, porque no colégio vende salgado e refrigerante. Se ele tem dinheiro no bolso, ele vai comprar um doce ou alguma fritura, mesmo com o lanche saudável que preparei."
Selma, mãe de Jonas de 11 anos, colesterol LDL alto

Jonas revela compreender os perigos de manter altos seus níveis de colesterol LDL, mas destaca que a influência de amigos e familiares , que estão sempre por perto consumindo produtos que não fazem parte de sua dieta, aliado ao sabor destes alimentos industrializados, dificulta que ele mantenha a disciplina.
Alice Amaral concorda que manter crianças e pré-adolescentes focados em uma alimentação saudável e balanceada não é tarefa fácil. Lembrando a presença do glutamato monossódico na maioria dos alimentos industrializados.
“Estes realçadores de sabor tornam o alimento muito atrativo, principalmente, para o paladar infantil. Eles criam um sabor único e artificial que de fato agrada, mas é muito prejudicial à saúde, pois contém elevados índices de sódio, além de gerar diversas complicações futuras.”
Alice Amaral, nutróloga.
A médica aponta que o apoio da família é fundamental para que a criança persista na dieta. Destacando a necessidade de gerar um estímulo além do paladar, atingindo também o visual. “Se a criança vê os pais comendo algo saudável, ela vai querer experimentar também.”

Alimentação e saúde
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o desejável é manter os níveis de colesterol total abaixo de 190 mg/dl, para adultos, e menor que 170 mg/dl, para crianças e adolescentes.
Sendo o colesterol HDL acima de 40 mg/DL. Já o colesterol LDL, varia conforme níveis individuais de propensão a doenças cardiovasculares.
O endocrinologista e metabologista Felipe Esteves, aponta que para as pessoas com risco cardiovascular baixo, a recomendação é manter o LDL menor que 130 mg/dl, já para pessoas com risco cardiovascular muito alto, a taxa deve ser menor que 50 mg/dl.
A alimentação é fator primordial para o controle do colesterol, desta forma, a médica nutróloga Alice Amaral revela que alguns alimentos podem reduzir os índices de colesterol LDL no organismo. Sendo eles, os ricos em fibras solúveis. Como por exemplo: aveia, lentilha, maçã, cenoura, beterraba, mandioca e ervilha.

Sobre as gorduras presentes nos ovos e abacate, por exemplo, Alice destaca que são gorduras do bem, que ajudam no controle do colesterol.
E alerta: "Magreza não é sinônimo de saúde." O LDL alto não tem aparência. Sendo uma patologia silenciosa que está relacionada, principalmente, a fatores genéticos, sedentarismo e má alimentação, portanto, a melhor arma é prevenir-se.
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