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Respeita as minas!

  • Nayara Martins
  • 9 de nov. de 2017
  • 7 min de leitura

"A figura feminina na cena hip hop: no movimento que marca a luta pela igualdade econômica e racial ainda existe preconceito de gênero."

Sol, Letícia, Mc Carola e Amanda Messias em frente aos graffitis de Tia e Pekena na Ufjf

Nos últimos anos, as mídias têm debatido questões importantes, como a igualdade de gênero, porém basta falar do assunto em uma roda de conversa entre amigos para perceber o quanto a palavra ainda causa estranhamento ou incômodo em algumas pessoas.


Na concepção de muitos, declarar-se feminista significa colocar o sexo feminino acima do masculino; mas a ideia da mulher exercer opressão ou domínio sobre o homem é denominada “femismo” e não é compatível com o movimento feminista.


O feminismo busca o fim da superioridade de um gênero sobre outro, defendendo a equidade entre homens e mulheres. Uma luta legítima e benéfica para ambos os sexos.


Rap e militância


Diversas manifestações artísticas atuam na busca por igualdade e no combate às opressões. Na música, o rap destaca-se como um gênero que atua neste contexto, apresentando letras em sua maioria de protesto, que visam dar voz e representatividade àqueles que a sociedade deixou de lado; porém, mesmo neste cenário, as mulheres ainda enfrentam preconceito.


Em março de 2016, a rapper curitibana Karol Conka, uma das figuras mais influentes da atual fase do rap nacional, denunciou em entrevista à HuffPost Brasil o preconceito dentro do segmento musical:


“No rap o problema não é ser negra, porque ele faz parte da cultura negra. O que torna difícil é ser mulher, é receber respeito sendo mulher. A gente só consegue respeito quando fala grosso, fala alto e faz um trabalho melhor do que o dos caras”

Karol Conka, em entrevista ao HuffPostBrasil

A rapper juiz-forana Pri Moreira, do coletivo Vozes da Rua, conhece bem esta realidade. Ela aponta que o cenário para a mulher no rap teve um avanço nos últimos anos, mas revela que o preconceito e a discriminação por gênero ainda existem.


Pri relata que em muitas batalhas de MCs ou em apresentações a prioridade é dos homens, destacando que, em alguns casos, a mulher só consegue espaço para mostrar seu trabalho ao final do evento, sendo incluída apenas se não existirem rappers do gênero masculino para se apresentar.


“Diversas vezes me convidavam para participar e, no final, acabava não acontecendo, porque surgia algum homem querendo rimar. Eles passavam na minha frente e eu não conseguia me apresentar”, declara.


Porém, lembra que apesar dos episódios de machismo e preconceito que precisou enfrentar, ela pôde contar com o apoio de alguns homens como os seus parceiros da posse de cultura hip-hop Zumbi dos Palmares (PZP) e o MC Aice NP, assassinado em maio de 2015, que sempre a incentivou a expressar suas mensagens de militância feminista através do rap.


Arte e Inspiração


As maiores inspirações de Pri Moreira no rap nacional são PretaRara, Nega Gizza, Kmila CDD, o grupo Odisseia das Flores e Dina Di. Sobre esta última, Priscila conta que foi a primeira mulher que ela viu cantando rap na vida.


“Eu pensei, 'gente, mulher canta rap também! Então eu posso'”

Pri Moreira, rapper

Rapper Pri Moreira/ Foto: Arquivo Pessoal

Hoje, assim como Dina Di, Pri também inspira a nova geração de garotas que desejam manifestar esta forma de arte. Ana Carolina, conhecida na cena hip hop como MC Carola, tem 16 anos e é nova na idade, mas possui um talento enorme.

Uma das MCs mais conhecidas da nova geração do rap em juiz de fora, Carola revela que a vontade de rimar surgiu aos 8 anos, a partir de canções que sua mãe escutava. A rapper também destaca que o apoio e motivação da família, assim como o incentivo de Pri Moreira e Adenilde Petrina, foram fundamentais para sua permanência na música.

A rapper aponta que desde muito nova precisou lidar com críticas severas por ser uma garota e cantar rap: “A partir do momento que percebi o preconceito dos meninos, fiquei desapontada com a visão que eu tinha da cultura hip hop”.

Ela também revela que teve princípio de depressão, pois ouvia diariamente comentários de intolerância e rispidez. "Eles debochavam de mim, diziam que mulher não sabe fazer rima."

Mas apesar dos desafios, Carola decidiu não se calar diante das provocações e do preconceito, pois percebeu que, se parasse de cantar, seria concordar com o que eles disseram.

"Eu decidi mostrar para eles que aquilo que eles estavam fazendo era errado. Através da música eu procuro destacar o empoderamento feminino"

Mc Carola, rapper

Carola destaca que esse é o ponto imprescindível para ela no hip hop, pois, apesar das dificuldades, é cantando que ela revela suas ideologias e mostra que as mulheres possuem espaço na sociedade.

"Hoje, os mesmos garotos que me ofendiam, pedem para fazer músicas em parceria comigo"

MC Carola, rapper

Meninas do Hip Hop

Sol, Letícia, Carola e Amanda - As Minas do Hip Hop

Os quatro pilares essenciais da cultura hip-hop são:o rap, o DJing, breakdance e o graffiti.

Amanda Messias, 22 anos, é DJ de hip hop, trapfunk e produtora. Ela reafirma que na cena hip hop o machismo é bastante comum, destacando que o movimento é filho de uma sociedade machista e que a cultura hip hop ainda é bastante marginalizada, tendo homens que lidam de maneira bruta com as mulheres.

“Esse homem marginalizado do hip hop acha que para a mulher participar do movimento ou ela precisa ser um objeto dele ou igualar-se a ele. E nós não precisamos ser uma coisa, nem outra”

Amanda Messias, DJ

Ana Marcela, Sol, 18, é dançarina de breakdance e uma das únicas b-girls de Juiz de Fora. Ela está presente na cultura hip hop há dois anos e concorda com Amanda sobre a postura dos homens do movimento: “Eles enxergam a mulher como um adorno. Ou você é a 'mina' deles ou está contra eles. Não podemos generalizar, existem os caras legais, mas já sofri e sofro muito preconceito por ser mulher e dançar break”.

Sol destaca que, devido à escassez da presença feminina no break dance, ela costuma participar de batalhas de dança quase sempre contra homens. E ser hostilizada por garotos em batalhas de dança é algo comum, segundo ela. "Quando eles percebem que tem mulher na roda para batalhar, os olhares passam a ser de desconfiança."

A jovem revela que o episódio de preconceito que mais a marcou foi quando iniciou nas competições e, durante uma batalha, alguns garotos juntaram-se para debochar e criticar seus passos, enquanto ela dançava. "Depois desse dia eu treinei bastante, durante seis meses, e tive a oportunidade de batalhar com os garotos que me ofenderam e venci a competição. Eles me pediram desculpas e me elogiaram bastante."

A b-girl Sol dançando break na Ufjf

Sol destaca que procura ensinar o que sabe para outras garotas, pois lembra que o que aprendeu foi por conta própria. E por ser um estilo de dança onde a figura masculina predomina, foram poucos os amigos que a ensinaram a dançar. Hoje ela busca nas batalhas e competições de breakdance garotas que desejam dançar mas não têm coragem, por medo de enfrentar represálias e precisarem lidar com o preconceito de gênero.

Atualmente a jovem se destaca como b-girl, mas afirma que, para conseguir o respeito dos homens, foi necessário provar que é realmente boa no que faz. E lembra que para os homens a situação é diferente:

" O garoto não precisa provar nada para ninguém, basta ele querer batalhar que tem a possibilidade de dançar. Não duvidam dele antes mesmo de entrar na roda"

Sol, B-girl

Letícia Livramento, 20, é dançarina de hip-hop freestyle há três anos. Assim como Sol, ela também já sofreu muito preconceito verbal, apenas pelo fato de ser mulher, mas as agressões não pararam por aí. A jovem revela que em uma cypher – roda de dança em estilo livre, onde qualquer pessoa pode entrar e mostrar seu talento –, um garoto a empurrou dizendo que ali não era o seu lugar.

"Ele disse para eu procurar algo que fosse para mim, um estilo que, segundo ele, fosse mais feminino. Fiquei frustrada e até já tentei mudar minha dança por conta de comentários preconceituosos, mas é assim que eu gosto de me expressar. É o que eu sou."

Letícia Livramento, dançarina de HipHop FreeStyle

Letícia destaca que o cenário melhorou há cerca de um ano, quando os homens passaram a ter um maior conhecimento sobre o feminismo, mas a luta é diária e continua.

Pintando Muros

Chris Assis é grafiteira, conhecida no movimento como Tia, devido a sua formação em pedagogia. Ela é a criadora dos projetos Educarte Hip-Hop e Educação e HipHopologia, que proporcionam a várias meninas e meninos a oportunidade de expressar sua arte.

Chris revela que já enfrentou muito preconceito por ser mulher, mas hoje, nos eventos que organiza, existe o respeito. “Eu deixei claro, para participar não pode ter a mente limitada. Precisa existir respeito, ou não participa.”

Atualmente, Chris assina como Tia Kiss e é comum ver o nome dela pelos muros da cidade. Seus projetos geram resultados além das ruas, transformando a realidade de jovens e ajudando a colorir espaços, como a Praça Cívica da UFJF.

Graffitis de Tia e Pekena na Praça Cívica da UFJF

Chris expressou as raízes da cultura hip-hop representando o Afrika Bambaataa e a Zulu Nation, no muro de graffitis que fazem alusão e homenagem à matriz africana.

No mesmo painel, Fernanda Toledo, 27 anos, a Pekena, estampa uma personagem feminina de turbante.

Pekena Lúmen, como é conhecida no movimento, conta que sua relação com a cultura hip hop começou nas aulas de breakdance e graffiti. Da dança, herdou apenas o apelido; há mais de dez anos graffitando, ela revela admirar o trabalho da carioca Panmela Castro (Anarkia Boladona) e da alemã MadC.

Sobre o machismo no cenário da arte de rua, ela aponta que o momento mais marcante foi quando um garoto próximo ao seu grupo de amigos fez um comentário sobre MadC. "Ele disse: 'Conheci o trabalho dela na gringa, ela é tão foda que não pode ser mulher.' Indicando que uma mulher não poderia realizar um trabalho tão bom no graffiti."

Pekena revela que foi frustrante ouvir aquilo, mas percebe que atualmente houve um avanço, os homens não fazem tantos comentários preconceituosos na cena do graffiti, como há dez anos.

E aponta que as garotas do movimento estão conscientes sobre a importância do falar. Quando alguém faz um comentário machista, as meninas buscam alertar os garotos e mostrar que aquele tipo de visão está ultrapassada.

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