Escolha de Carreira: Independência ou Dúvida?
- Nayara Martins
- 31 de out. de 2017
- 7 min de leitura
"Licenciatura, bacharelado, tecnólogo, curso profissionalizante ou técnico? Medicina, Desenho Industrial, Engenharia Automotiva, Direito ou Música? Com uma lista quase infinita de opções é cada vez mais comum que jovens se deparem com inseguranças e ansiedade na hora da escolha de carreira.'''

Ao sair do Ensino Médio muitos jovens ficam em dúvida sobre a área na qual desejam atuar no futuro
Solucionar dilemas que envolvem a escolha da carreira não é um processo simples. Existe um peso e uma enorme pressão durante esse processo de decisão, já que a maioria dos jovens enxerga o vestibular como a porta de entrada para a profissão que poderão exercer pelo resto de suas vidas.
A primeira fase de provas do Exame Nacional do Ensino Médio, ENEM 2017, começa neste domingo, 5 de novembro. E o Processo Seletivo Misto (PISM/UFJF), também se aproxima.
Se você é um vestibulando indeciso quanto ao curso que irá escolher, não se desespere. Preparamos uma reportagem especial para te auxiliar neste importante processo de decisão.
Uma decisão: diversas possibilidades
AFLITA, é assim que Mariana Oliveira, 17 anos – aluna do Colégio Santos Dumont – define-se ao ser questionada sobre escolha de carreira. Faltando poucos dias para o ENEM, a estudante ainda não sabe qual formação irá seguir.
Muitas pessoas ficam ansiosas ao precisarem decidir a carreira que irão seguir
Neste caminho de indecisões, a jovem revela que pretende optar entre os cursos de Letras, Biologia ou Engenharia Ambiental.
Apesar da ansiedade, ela destaca que procura tratar com humor o fato de estar em dúvida entre cursos de áreas tão distintas; mas confessa que as incertezas tem afetado suas noites de sono.
“Às vezes acordo de madrugada e começo a pensar sobre os cursos. Quando percebo que a dúvida continua, fico aflita. Meu coração chega a ficar acelerado,”
Mariana Oliveira, estudante do terceiro ano do ensino médio.
Mariana não está sozinha neste processo, a última pesquisa realizada pelo Portal Educacional revela que 54% dos estudantes do terceiro ano do ensino médio ainda não sabem qual carreira seguir.
Escolha de carreira - O jovem está bem preparado?
Não existe um manual listando o que fazer após a conclusão do ensino médio, o que desespera muitos jovens; afinal, ao concluir este ciclo obrigatório de ensino, ele começa a descobrir a independência, mas também um universo de dúvidas.
O fato de aprender conteúdos de diferentes áreas, durante a fase escolar, com um programa de ensino que na maioria dos colégios não estimula o estudante a focar em um segmento de interesse, forma um aluno que precisa estar ciente de todas as áreas, mas que não se aprofunda em nenhuma.
Muitas vezes, o jovem sente-se 'bombardeado' por informações, descobrindo aptidões em áreas opostas. Atraindo-se, por exemplo, por geografia e física, isto faz com que o leque de cursos de interesse fique cada vez maior.
De acordo com a psicóloga Joana Baldi Carnicelli, uma deficiência comum em grande parte das instituições de ensino no Brasil, tanto públicas, quanto privadas, é o fato de prepararem o aluno para ser aprovado no vestibular, porém, não o orientam durante o processo de escolha. Segundo a especialista, o ideal seria que todas as escolas a partir do primeiro ano do ensino médio ofertassem um acompanhamento de orientação vocacional aos alunos.

O jovem em dúvida deve procurar orientação profissional especializada
Cursos técnicos e profissionalizantes
A falta desta orientação nas instituições de ensino, muitas vezes, obriga o jovem a buscar suas próprias alternativas para solucionar a dúvida quanto à escolha da futura carreira .
O que foi o caso de Lucas Souza, 18, aluno da Escola Estadual Sebastião Patrus de Sousa, que se matriculou em um curso de Aprendizagem Industrial em uma escola de ensino profissionalizante.
Valendo-se de suas habilidades, o que foi aprendido no curso, seus interesses e o retorno financeiro positivo que a área pode trazer, o estudante optou por prestar vestibular de graduação em Logística.
O curso técnico ou profissionalizante não serve apenas para ajudar a dissolver indecisões, mas também é uma opção de carreira. Um atrativo que chama a atenção, principalmente dos mais jovens, pois alguns setores oferecerem um piso salarial médio superior ao de profissões que exigem graduação universitária.
Acalmando mentes aflitas

Joana Baldi Carnicelli, psicóloga especialista em orientação vocacional
A psicóloga afirma: é normal que os vestibulandos tenham dúvidas em um primeiro momento, principalmente devido à fragmentação das profissões. Há quarenta anos, era usual escolhermos formações consideradas de “maior tradição”, como por exemplo: Medicina, Direito ou Engenharia; hoje, as opções de curso parecem ser infinitas, o que aumenta as incertezas dos jovens.
Para a especialista, o ideal é separar as opções de curso por áreas (Humanas, Exatas ou Saúde) e dentro desta delimitação, o vestibulando deve priorizar o que é de maior interesse. Após esse processo, o candidato deve pesquisar detalhadamente sobre cada uma delas.
Pesquisa e autoconhecimento
Em casos onde o aluno está indeciso sobre qual carreira seguir faltando poucos meses para o vestibular, como a jovem Mariana, a psicóloga recomenda colocar os prós e contras de cada profissão no papel.
A dica essencial é que o candidato pesquise bastante não só sobre o curso, mas que visite também as universidades; analise a grade curricular e converse com os profissionais que atuam na área que lhe interessa.
A pesquisa acerca do mercado de trabalho e a expectativa de crescimento de empregos naquele setor da economia também é fundamental, mas o jovem precisa ficar atento também às suas habilidades e pensar nas profissões que realmente se imagina feliz exercendo.

Todos os caminhos apontam para a direção certa, basta você analisar o seu perfil e descobrir a mais adequada
"Devemos colocar em nossa balança emocional o que pesa mais em nossa escolha. Se o candidato ao vestibular procura uma profissão que proporcione estabilidade ou retorno financeiro, por exemplo."
Joana Carnicelli, especialista em orientação vocacional
Quanto aos populares testes vocacionais, daqueles que encontramos na internet, a psicóloga alerta:
“Não sou contra testes vocacionais, mas considero que às vezes o resultado pode induzir uma pessoa indecisa a determinada profissão.”

O candidato ao vestibular não deve escolher o curso baseado em nota de corte ou relação de candidatos por vaga
Outro ponto que não deve ser determinante na escolha, é a relação candidato/vaga ou a nota de corte divulgada por algumas universidades. Escolher o curso por esses fatores, pode resultar em uma escolha infeliz. E a especialista em orientação vocacional, afirma:
“Se você estudou, está preparado. O vestibular deve ser levado a sério, não é uma prova para conquista de nota, e sim, para o início de uma nova etapa em sua vida.”
Joana Carnicelli, especialista em orientação vocacional
Retornando à universidade – O vestibulando veterano
Enganam-se aqueles que pensam que as dúvidas desaparecerão com a aprovação no vestibular. Para muitos, pode ser o início delas. Principalmente para aqueles que não se informaram sobre as disciplinas do curso ou a realidade da profissão.
Joana destaca que nos primeiros anos de faculdade a indecisão pode ser comum, devido à grade curricular de ensino das universidades, que, geralmente, é pouco dinâmica, composta por matérias que não parecem objetivas para o estudante.
Mas a psicóloga alerta que quando a pessoa vai para a universidade sem estímulo algum ou quando a pessoa não se enxerga atuando naquela profissão, o curso se torna um sofrimento e é hora de repensar a escolha.

A melhor arma para enfrentar a dúvida é o autoconhecimento: As vezes é preciso repensar decisões.
O aluno indeciso no ensino superior precisa acima de tudo de coragem e persistência ao decidir prestar outro vestibular. Ele deve estar ciente que poderá enfrentar impasses com a família, divergência de opiniões e até mesmo dúvidas, afinal, fatores como tempo e o dinheiro gasto podem influenciar na decisão.
A dica neste caso é procurar amadurecer a ideia da mudança de curso. Se houver impasse com a família devido à decisão de mudança e escolha da nova profissão, o melhor a ser feito é não tentar “bater de frente”, mas sim mostrar de maneira exemplificada como a mudança pode ser positiva para o aluno.
Em busca da felicidade – o “sim” para mudanças
Paula Soares, 22 anos, ex- graduanda em Jornalismo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), apostou no diálogo amigável e teve o apoio dos pais. Em novembro de 2015, após o retorno da greve na UFJF, ela decidiu perseguir um sonho antigo: a carreira musical.
A ex-estudante de Jornalismo conta que sonha em dedicar-se à música desde 2012, quando ainda estava no segundo ano do ensino médio. Ela conta que decidiu investir no curso de Jornalismo, como um 'plano B', pois era uma área que se encaixava em seu perfil comunicativo e ela tinha receio de cursar música, pois considera que ser reconhecida e obter sucesso nesta área é algo difícil no cenário brasileiro.
Paula revela que pensou muito antes de tomar a decisão de trancar o curso, mas optou por aquilo que a faria feliz e agora pretende prestar um novo vestibular. Ela conta que houve um pequeno impasse com os pais, pois eles preferiam que a jovem conciliasse o curso de jornalismo e o amor pela música, porém, após uma conversa, eles a deixaram livre para fazer sua escolha e hoje a apoiam em sua nova carreira.

O apoio da família é fundamental trazendo motivação para enfrentar e adaptar-se às mudanças
Para Miriane Bastos, profissional de Recursos Humanos, o apoio da família é fundamental na decisão de uma mudança de carreira. Quando questionada sobre retorno financeiro e perspectiva de mercado, Miriane afirma que devemos pensar no lado financeiro sim, mas é necessário amar e ter prazer no que se faz, pois se isso não ocorrer, o trabalho torna-se uma carga muito pesada.
Perdendo a motivação no trabalho, o que pode afetar o desempenho profissional e as relações interpessoais. “Devemos ter em mente que quando você faz o que gosta, o retorno financeiro vem como consequência. Existe espaço em todas as áreas para quem ama o que faz e é bom nisto.”
Para quem irá prestar o ENEM neste final de semana, preparamos um bônus:
Conversamos com a professora de português e literatura; autora de livros didáticos, Claudia Miranda que apresenta dicas para desenvolver uma boa redação.
Fica ligado porque a produção do texto dissertativo argumentativo equivale a 50% do peso na nota total do aluno no Enem.
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