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Os 100 Melhores Filmes Brasileiros de todos os tempos

  • Lucas Godinho
  • 31 de out. de 2017
  • 9 min de leitura

A Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) lançou no último festival de Cinema de Gramado uma lista curiosa: “Os 100 Melhores Filmes Brasileiros”. A lista, elaborada por mais de 100 críticos renomados – incluindo nomes como Pablo Vilaça e Jean-Claude Bernardet –, foi publicada em um livro de luxo no próprio festival e já conta com uma segunda edição.

A relação passa por toda a cinematografia brasileira, desde os anos 1930, com filmes de Umberto Mauro e Mário Peixoto, até filmes mais modernos como “Que horas ela volta”, de Anna Muylaert, e “ O Som ao redor”, de Kleber Mendonça Filho. O Cinema Novo Brasileiro – movimento cinematográfico da década de 1960 – foi amplamente aclamado, com o maior número de menções na lista. Tiveram destaque dois cineastas: Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos, cada um com quatro citações; seguidos por Eduardo Coutinho, com três filmes no ranking.

Confira a lista completa, algumas resenhas e os trailers dos filmes mais citados:

LISTA COMPLETA

Glauber Rocha é o diretor com maior número de filmes na lista: Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe, Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro e A Idade da Terra

1. Limite (1931), de Mario Peixoto 2. Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha 3. Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos 4. Cabra Marcado para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho 5. Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha 6. O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Rogério Sganzerla 7. São Paulo S/A (1965), de Luís Sérgio Person 8. Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles 9. O Pagador de Promessas (1962), de Anselmo Duarte 10. Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade 11. Central do Brasil (1998), de Walter Salles 12. Pixote, a Lei do Mais Fraco (1981), de Hector Babenco 13. Ilha das Flores (1989), de Jorge Furtado 14. Eles Não Usam Black-Tie (1981), de Leon Hirszman 15. O Som ao Redor (2012), de Kleber Mendonça Filho 16. Lavoura Arcaica (2001), de Luiz Fernando Carvalho 17. Jogo de Cena (2007), de Eduardo Coutinho 18. Bye Bye, Brasil (1979), de Carlos Diegues 19. Assalto ao Trem Pagador (1962), de Roberto Farias 20. São Bernardo (1974), de Leon Hirszman 21. Iracema, uma Transa Amazônica (1975), de Jorge Bodansky e Orlando Senna 22. Noite Vazia (1964), de Walter Hugo Khouri 23. Os Fuzis (1964), de Ruy Guerra 24. Ganga Bruta (1933), de Humberto Mauro 25. Bang Bang (1971), de Andrea Tonacci 26. A Hora e a Vez de Augusto Matraga (1968), de Roberto Santos 27. Rio, 40 Graus (1955), de Nelson Pereira dos Santos 28. Edifício Master (2002), de Eduardo Coutinho 29. Memórias do Cárcere (1984), de Nelson Pereira dos Santos 30. Tropa de Elite (2007), de José Padilha 31. O Padre e a Moça (1965), de Joaquim Pedro de Andrade 32. Serras da Desordem (2006), de Andrea Tonacci 33. Santiago (2007), de João Moreira Salles 34. O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1969), de Glauber Rocha 35. Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro (2010), de José Padilha 36. O Invasor (2002), de Beto Brant 37. Todas as Mulheres do Mundo (1967), de Domingos Oliveira 38. Matou a Família e Foi ao Cinema (1969), de Julio Bressane 39. Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), de Bruno Barreto 40. Os Cafajestes (1962), de Ruy Guerra 41. O Homem do Sputnik (1959), de Carlos Manga 42. A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral 43. Sem Essa Aranha (1970), de Rogério Sganzerla 44. SuperOutro (1989), de Edgard Navarro 45. Filme Demência (1986), de Carlos Reichenbach 46. À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964), de José Mojica Marins 47. Terra Estrangeira (1996), de Walter Salles e Daniela Thomas 48. A Mulher de Todos (1969), de Rogério Sganzerla 49. Rio, Zona Norte (1957), de Nelson Pereira dos Santos 50. Alma Corsária (1993), de Carlos Reichenbach 51. A Margem (1967), de Ozualdo Candeias 52. Toda Nudez Será Castigada (1973), de Arnaldo Jabor 53. Madame Satã (2000), de Karim Ainouz 54. A Falecida (1965), de Leon Hirzman 55. O Despertar da Besta – Ritual dos Sádicos (1969), de José Mojica Marins 56. Tudo Bem (1978), de Arnaldo Jabor (1978) 57. A Idade da Terra (1980), de Glauber Rocha 58. Abril Despedaçado (2001), de Walter Salles 59. O Grande Momento (1958), de Roberto Santos 60. O Lobo Atrás da Porta (2014), de Fernando Coimbra 61. O Beijo da Mulher-Aranha (1985), de Hector Babenco 62. O Homem que Virou Suco (1980), de João Batista de Andrade 63. O Auto da Compadecida (1999), de Guel Arraes 64. O Cangaceiro (1953), de Lima Barreto 65. A Lira do Delírio (1978), de Walter Lima Junior 66. O Caso dos Irmãos Naves (1967), de Luís Sérgio Person 67. Ônibus 174 (2002), de José Padilha 68. O Anjo Nasceu (1969), de Julio Bressane 69. Meu Nome é… Tonho (1969), de Ozualdo Candeias 70. O Céu de Suely (2006), de Karim Ainouz 71. Que Horas Ela Volta? (2015), de Anna Muylaert 72. Bicho de Sete Cabeças (2001), de Laís Bondanzky 73. Tatuagem (2013), de Hilton Lacerda 74. Estômago (2010), de Marcos Jorge 75. Cinema, Aspirinas e Urubus (2005), de Marcelo Gomes 76. Baile Perfumado (1997), de Paulo Caldas e Lírio Ferreira 77. Pra Frente, Brasil (1982), de Roberto Farias 78. Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1976), de Hector Babenco 79. O Viajante (1999), de Paulo Cezar Saraceni 80. Anjos do Arrabalde (1987), de Carlos Reichenbach 81. Mar de Rosas (1977), de Ana Carolina 82. O País de São Saruê (1971), de Vladimir Carvalho 83. A Marvada Carne (1985), de André Klotzel 84. Sargento Getúlio (1983), de Hermano Penna 85. Inocência (1983), de Walter Lima Jr. 86. Amarelo Manga (2002), de Cláudio Assis 87. Os Saltimbancos Trapalhões (1981), de J.B. Tanko 88. Di (1977), de Glauber Rocha 89. Os Inconfidentes (1972), de Joaquim Pedro de Andrade 90. Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1966), de José Mojica Marins 91. Cabaret Mineiro (1980), de Carlos Alberto Prates Correia 92. Chuvas de Verão (1977), de Carlos Diegues 93. Dois Córregos (1999), de Carlos Reichenbach 94. Aruanda (1960), de Linduarte Noronha 95. Carandiru (2003), de Hector Babenco 96. Blá Blá Blá (1968), de Andrea Tonacci 97. O Signo do Caos (2003), de Rogério Sganzerla 98. O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006), de Cao Hamburger 99. Meteorango Kid, Herói Intergaláctico (1969), de Andre Luis Oliveira 100. Guerra Conjugal (1975), de Joaquim Pedro de Andrade (*) 101. Bar Esperança, o Último que Fecha (1983), de Hugo Carvana (*) (*) Empatados na última colocação.

O PAGADOR DE PROMESSAS - Anselmo Duarte (1962)

9° Colocado

Dentro e fora dessa lista se fala muito na revolução do Cinema Novo brasileiro, ocorrida na década de 1960. Assim, são poucos os filmes anteriores a este período que conseguem aparecer como melhores de todos os tempos. E “O pagador de Promessas” é um deles.

Um humilde camponês conhecido como Zé do Burro faz uma promessa para salvar a vida de seu melhor amigo – um burro de carga – e sai em peregrinação para levar uma cruz até a igreja de Santa Bárbara, em um povoado próximo. Chegando lá, o padre o impede de entrar na igreja por dois motivos: a promessa foi para salvar a vida de um animal e ainda foi feita em um centro de macumba. A partir daí se instaura uma tragédia com elementos tão atuais que nem parecem filmados a mais de cinquenta anos. Anselmo Duarte discute a miscigenação religiosa no Brasil, preconceito racial, a cidade como centro de perdição e sobra até para a mídia sensacionalista. E se as discussões político-sociais não fossem o bastante, o elenco de peso com Norma Bengell, Glória Menezes e Antônio Pitanga está extremamente afiado, não dando chances para o espectador desgrudar o olho da tela.

Em tempos de discursos de ódio e polarização política, O Pagador de Promessas mostra que nada disso é coisa nova, mas problemas que permeiam nossa sociedade desde o apogeu do mundo moderno.

O BANDIDO DA LUZ VERMELHA - Rogério Sganzerla (1968)

6° colocado

Inspirado pelos jovens cineastas do Cinema Novo, o estreante Rogério Sganzerla juntou um grupo de boêmios, da conhecida Boca do Lixo de São Paulo, para produzir uma das maiores pérolas do cinema brasileiro. Influenciado pela história do serial killer que usava uma lanterna vermelha, Sganzerla mostra todo o ambiente da classe baixa paulista, não só na narração da história, mas também na forma quase non-sense de levar a narrativa. A Boca Lixo torna-se o próprio formato.

Todos os ambientes remetem à decadência urbana de áreas sem a devida atenção do estado, que se organizam de forma própria. Uma narração radiofônica em ritmo crescente, onde os dois locutores quase completam as frases sensacionalistas um do outro, permeia imagens escuras e personagens tipicamente urbanos.

Apesar de toda a influência cinemanovista, o filme foi rechaçado pelos cineastas do movimento, como sem conteúdo. Mas alcançou maior sucesso de público do que Glauber Rocha e companheiros jamais sonharam, colocando o diretor no panorama do cinema nacional de forma diferente: nascia aqui o cinema marginal brasileiro.

Após o rompimento com o cinema novo, Sganzerla passa a testar as diversas formas narrativas oriundas do universo popular, com uma estética inspirada no 'gosto típico’ das classes marginais da nossa sociedade, chegando a influenciar grandes cineastas marginais no mundo todo, incluindo o próprio rei do mau gosto, John Waters. Independente das experimentações posteriores, esse continua sendo o filme definitivo do diretor. Destaques para os atores Paulo Vilaça e Helena Ignez (ex-mulher de Glauber), nos papeis principais.

VIDAS SECAS - Nelson Pereira dos Santos (1963)

3° Colocado

É difícil entender a grandiosidade de Vidas Secas sem citar a obra literária de Graciliano Ramos. O livro narra um pedaço da vida de uma família miserável do Nordeste. Os personagens pobres e sem instrução quase não se comunicam através de palavras, na verdade quase não se comunicam: eles são as personas de seus próprios pensamentos, intimistas e primitivos. Poucos diálogos e muitas trocas de olhares tornam o livro uma adaptação improvável, mas não impossível nas mãos do já veterano Nelson Pereira dos Santos. A maestria com que ele leva as cenas, sem nenhuma pressa, e a forma expressiva de uma mise-en-scène quase felliniana, não deixam passar nenhum sentimento em branco. Muito inspirado pela estética da fome de Glauber Rocha, o filme coloca à prova as ambições da família, que sem perspectiva de vida sonha com uma cama e um punhado de bois. Mas a miséria e a pobreza persistem, independente do trabalho, pois entre as chuvas sempre há um período de seca. O filme trata de uma família de retirantes, mas, habilmente, Nelson coloca elementos com que qualquer brasileiro pode se identificar, afinal de contas nas palavras do próprio diretor: “Quem nesse país não acha que trabalha muito, para não colher nada depois? ”.

DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL - Glauber Rocha (1964)

2° colocado

É impossível falar de cinema brasileiro e não falar de Glauber Rocha! O irreverente cineasta mostrou para todo o Brasil (e para o mundo) que é possível fazer cinema fora do circuito e ainda produzir com qualidade. E Deus e o Diabo na Terra do Sol é a maior prova disso. Com apenas 23 anos, o jovem realizador mostrou a verdadeira cara do Brasil pra todos os quatro cantos do globo.

Criador da ‘estetika da fome’, Glauber aceitava a situação de cinema subdesenvolvido em um país subdesenvolvido e transformava isso em arte. Partindo do pressuposto que o brasileiro tinha fome, mas não só de comida, mas fome de cultura, de lazer e de tudo. E essa dita fome não era a causa e nem o efeito do próprio subdesenvolvimento, mas a espinha dorsal de tudo que se cria e se pensa no Brasil.

Assim ele ignorou normas clássicas de cinema e criou ‘Deus e o Diabo na Terra do Sol’. Gravado todo no sertão nordestino e com pouquíssima renda o filme narra a história de um pobre vaqueiro, que após ser injustiçado pelo patrão, parte em busca de salvação, encontrando representações nordestinas de Deus e do diabo.

Não é um filme fácil nem bonito, mas muito poderoso. Glauber exclui as paisagens bonitas e voluptuosas mulatas que até então povoavam o cinema brasileiro no exterior – e no próprio país. O resultado é um filme duro, mas inovador, onde a fome e a realidade do brasileiro superam a narrativa em si. ‘Deus e o Diabo na Terra do Sol’ não conta a história de um jovem pobre do nordeste, mas faz um ensaio sobre a real condição humana no Brasil da época.

O mote “Uma câmera da na mão e uma ideia na cabeça” nunca foi tão verdadeiro.

LIMITE - Mario Peixoto (1931)

1° Colocado

E o famigerado primeiro lugar da lista vai para um dos mais lendários filmes da cinematografia brasileira! Único filme dirigido pelo cineasta Mário Peixoto, cinéfilo e entusiasta do cinema mudo, a película foi perdida durante a década de 1940 e alcançou o status de lenda, depois de décadas sem ser exibida, sendo lembrada apenas pela polêmica do seu lançamento. Grandes cineastas do Cinema Novo, como Glauber Rocha e Saulo Pereira de Mello, exaltavam a obra sem nem ao menos vê-la, devido ao grande sucesso de culto do filme.

O longa foi finalmente restaurado na década de 1970, e a hype não estava errada! Durante as duas horas de duração, Mario Peixoto brinca com as emoções e momentos da vida dos três personagens presos em um pequeno bote à deriva. Cada um dos personagens está fugindo de seu ciclo social de uma forma diferente e se encontram sem dar nenhuma palavra. Mas a magia do roteiro não está na trajetória de cada um dos personagens, mas na forma poética e autoral do diretor de expor as cenas, uma forma nunca vista antes (e pouco vista depois) no cinema brasileiro.

A montagem dialética a la Eisenstein, as belas imagens registradas pelo pai da fotografia brasileira, Edgar Brasil, e a presença de Carmen Santos, a primeira diva do cinema nacional, são apenas a cereja do bolo nessa que é considerada a primeira obra autoral do cinema brasileiro.


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