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Uma cerveja, por favor.

  • Nayara Martins
  • 19 de out. de 2017
  • 7 min de leitura



Outubro é o mês da tradicional “festa da cerveja”, a Oktoberfest, realizada desde 1872 em Munique, na Alemanha. O evento recebe milhões de turistas o ano todo, ganhando adeptos ao redor do mundo, mas principalmente no sul e sudeste do Brasil, devido à forte influência da colonização alemã no país.


Com a ascensão das cervejas artesanais, a "Festa de Outubro" hoje não fica restrita apenas à famosa comemoração em Blumenau (SC), sendo celebrada nas mais diversas cidades brasileiras; Juiz de Fora é uma delas. A Oktoberfest JF 2017 começa nesta quinta, 19, ao meio-dia, e será realizada no primeiro piso do Independência Shopping, na praça de eventos.


Para comemorar, o portal Meio&Expressão preparou uma reportagem especial para você conhecer melhor essa bebida que atravessa milênios.


Uma cerveja, por favor.

Água, malte e lúpulo. Segundo os princípios da lei de pureza alemã – Reinheitsgebot, 1516 –, estes são os ingredientes para fabricar uma cerveja com excelência em qualidade. Este mandamento é respeitado até os dias de hoje por entusiastas da bebida. No entanto, na contemporaneidade destaca-se também a presença de mais um componente essencial: as leveduras.


Esta “fórmula mágica” é uma descoberta milenar, possivelmente resultado de um erro ou acidente durante a fabricação de pão. Não é possível afirmar como este processo de produção ocorreu, ou quem foi o responsável por ele, porém acredita-se que algum cereal acabou molhando e foi fermentado ao ar livre, gerando a mistura inusitada.

Alguém experimentou o produto por curiosidade ou necessidade - afinal, nessa época o alimento era escasso - e “voila”, eis que surge a cerveja.

Elixir dos deuses

O documento mais antigo que registra a fabricação da bebida tem pelo menos 6 mil anos e vem de uma civilização localizada no sul da Mesopotâmia, denominada Suméria. Atualmente esse território compreende o sul do Iraque e do Kuwait.


O registro encontrado nesta região foi o “Hino para Ninkasi”, que é a deusa sumeriana da cerveja e do álcool, conhecida por seu poder para satisfazer o desejo humano e saciar o coração. Existem relatos de que a bebida causava alegria, sendo considerada uma criação abençoada, útil até mesmo para o tratamento de doenças.


A cerveja foi coroada como um produto dos deuses, passando por diversas civilizações, dentre elas babilônios, egípcios, romanos e germânicos. Cada povo com seu costume, necessidade, lendas e atribuições acerca do uso da bebida.


De moeda de troca a uma opção segura para matar a sede em épocas em que não havia saneamento básico. De oferenda às divindades a alimento que convida para celebrações. A cada ano criando na franqueza da mistura de cada ingrediente uma nova magia. Um “elixir” que ganha novos significados e maneiras de produção, com o passar do tempo. Mas o que não muda é o sucesso da bebida entre os povos.

Polo cervejeiro

Seja no bar com os amigos, em casa, na balada, no churrasco em família, a sós ou a dois, o produto acompanha seus apreciadores. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística (Ibope) de novembro de 2013, a cerveja é a bebida preferida de 2/3 dos brasileiros para comemorar os bons momentos, totalizando 64% dos simpatizantes dentre as 1.900 pessoas que participaram do estudo.


Se por um lado o produto é a escolha nacional, de outro, a produção não deixa a desejar. O setor emprega 2,2 milhões de trabalhadores, e a receita do faturamento corresponde a 1,6% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) nacional.


Em 2016, o Brasil fabricou 14,1 bilhões de litros da bebida, colocando o país em terceiro lugar no ranking da fabricação mundial de cerveja. O levantamento foi realizado pela Barth-haas Group, a maior fornecedora de lúpulo do mundo. O país superou até mesmo a Alemanha, terra da Oktoberfest, ficando atrás apenas da China e dos Estados Unidos.


Minas muito além da cachaça

Desde a década de 1990, vem ocorrendo a expansão das cervejas artesanais no Brasil, tendo o estado de Minas Gerais como um dos maiores destaques do ramo. De acordo com dados do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas de Minas Gerais (SindBebidas), o estado produz mensalmente cerca de 1,5 milhão de litros de cervejas artesanais, tendo como estimativa para este ano um crescimento de 14% em relação a este valor. O levantamento do SindBebidas também afirma que o mercado cresceu 21% acima da média brasileira no último ano.


Juiz de Fora contribui ativamente para este desenvolvimento. O polo cervejeiro da cidade e da Zona da Mata foi reconhecido em maio deste ano como Arranjo Produtivo Local (APL), integrando a política pública de Minas Gerais voltada para a produção cervejeira. De acordo com o estudo mais recente realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o setor movimenta cerca de R$ 3,2 milhões por ano em Juiz de Fora. São em média 350 mil litros de cerveja, o que torna o município um dos principais locais de produção artesanal de Minas Gerais.


Atualmente apenas seis empresas juiz-foranas possuem o registro no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), mas o Sebrae estima que o número de cervejeiros e microcervejarias seja bem maior. Expectativa compartilhada também pela Associação de Microcervejeiros da Zona da Mata, que funciona há quatro anos na cidade e possui cerca de 180 cervejeiros registrados.


Mercado

A pesquisa ainda revela que cerca de 41% dos consumidores são jovens entre 20 e 29 anos, com renda familiar entre R$ 2,5 mil e R$ 10,2 mil mensais. Mais da metade desses consumidores chegam a pagar em média R$ 14,50 por uma garrafa da bebida artesanal. O valor é relativamente alto se comparado com o preço das cervejas feitas a partir de processos industriais. E é possível considerar que quem consome geralmente não se limita apenas a uma unidade do produto.


Mas como explicar o fato: mesmo em meio à crise econômica, o mercado de cervejas artesanais não para de crescer? Um dos motivos para a expansão desse ramo é devido ao sabor. Quem aprecia uma cerveja pura, mais encorpada, não a troca por aquelas feitas a partir de processos industriais. Murillo Ottoni, cervejeiro e um dos proprietários e fundadores da Venna, destaca que o diferencial da bebida artesanal é a qualidade.

“Nós não aceleramos as etapas do processo.

Produzir cerveja artesanal exige paciência e muito amor; é algo demorado.”

Murilllo Ottoni, fundador da Venna

São em média sete dias fermentando e mais ou menos 15 dias maturando. O processo é caseiro e totalmente mecânico. A reportagem teve a oportunidade de acompanhar um dia de produção na sede da microempresa e constatou: é preciso ficar atento a cada detalhe.


Murillo também lembra que o produto é perecível e, se mal armazenado, pode estragar com facilidade. Mas isso também pode ser encarado como uma qualidade, pois denota uma bebida mais pura e por consequência mais saudável se comparada às das grandes empresas. “O nosso produto é livre de conservantes. Hoje o cliente não se importa de pagar por qualidade, porque sabe que o preço é justo.”


Leticia Almeida, 22, estudante de engenharia ambiental, confirma que o valor não é o problema. E completa: “Eu acho a cerveja artesanal melhor porque ela mostra o sabor natural da cevada, a fermentação é natural e tem menos conservantes”. A nutricionista Vanessa Cirilo, 27, também revela a preferência pela bebida; além do sabor, ela considera que o produto feito por meio do processo artesanal é mais leve do que o industrializado: “Quando consumo a cerveja industrial, me sinto inchada. Parece que pesa no estômago. A cerveja artesanal é leve. Me sinto bem consumindo, além do sabor que é muito bom”.

Criatividade e vendas


As cervejas Venna podem ser encontradas em cinco bares famosos entre o público jovem de Juiz de Fora, mas a empresa também trabalha com a formulação home service; o pedido é feito por meio do WhatsApp, e a bebida é entregue onde o cliente estiver.


As propostas que levam o produto ao consumidor são bem amplas no ramo. A Arena Breja revende cervejas e chopes da marca Antuerpia em uma Kombi personalizada. Com o slogan “Bier on the road”, que no português seria “Cerveja na estrada”, a ideia é que a mercadoria vá até o consumidor.

O jovem Hugo Milani, 23, trabalha com seu pai na microempresa e afirma que a adesão do veículo trouxe um relevante aumento nas vendas.


E as concepção criativas que atuam neste segmento, levando o produto ao cliente, são inovações que vieram para ficar. Como, por exemplo, as feiras e eventos gastronômicos que têm a cerveja como destaque.


O vice-presidente da associação dos cervejeiros e desenvolvedor da cerveja Profana, Cristiam Nazareno Oliveira Rocha, afirma que esta prática é um dos fatores que transformaram a bebida artesanal em um sucesso.


Há mais de dez anos no mercado de cervejas artesanais, Cristiam relata que quando iniciou a produção da Profana, em janeiro de 2007, poucas pessoas tinham conhecimento do sabor ou formulação da bebida artesanal. Hoje, graças aos eventos as pessoas passaram a compreender e amar este tipo de fabricação.


"O conceito do mercado de bebidas especiais é: Beber menos para beber melhor."

Cristiam Nazareno, mestre cervejeiro

O mestre cervejeiro ainda destaca que os eventos como a Oktoberfest JF, são interessantes tanto para o intercâmbio entre produtores, quanto para expor o item aos clientes e consumidores em potencial.


" Os eventos geram proximidade do público com este novo tipo de cerveja. Como diria Milton Nascimento: 'Todo artista tem de ir aonde o povo está.' "

Cristiam Nazareno, fundador da cerveja Profana

Destacando também que as exposições e feiras são uma ferramenta primordial em marketing para o fabricante da bebida artesanal; uma vez que, o pequeno produtor não tem como competir com as grandes indústrias em termos de propaganda. Tendo a qualidade, como destaque crucial em termos de vendas.


A partir de tantos diferenciais, o produto artesanal vive um momento de prosperidade e crescente expansão no mercado . Desta forma, é possível perceber que o bar sempre será um interessante local de integração e degustação de bebidas, mas a lógica de levar a cerveja até o freguês tem conquistado cada vez mais o público juiz-forano.

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